O vinho é uma prática milenar que sofreu uma grande evolução ao longo do tempo: serviu de meio de pagamento no comércio dos metais; quando o povo grego veio para a Península Ibérica, desenvolveu-se a viticultura e, também, a vinicultura; e no tempo da romanização, assistiu-se a uma modernização de processos de cultivo e à introdução da poda. No fundo, até se chegar aos dias de hoje, a arte de fazer vinho sofreu um grande processo evolutivo; e nos dias de hoje, as portas para a evolução ainda estão bem abertas.
Se recuarmos uns anos e formos ao encontro das gerações passadas, as pessoas tinham uma relação com o vinho mais emotiva. Era um produto que vinha da própria terra, que tinha atenção e cuidados diários. Existia um acompanhamento constante, que ia desde a produção ao consumo. Conhece-se toda a história que se encontra dentro daquela garrafa: que castas foram utilizadas, como foram cultivadas, como foram podadas, quanto tempo foi envelhecido, onde foi envelhecido, qual a harmonia de texturas e sabores. Há uma grande relação emotiva.
Nos dias de hoje, começa a ser raro ver jovens com uma relação emotiva com o vinho, uma vez que com o êxodo rural e a diferença demográfica entre o litoral e o interior, a maior parte dos jovens encontra-se na cidade e não tem terrenos. No entanto, o número de jovens que entra para o mundo da enologia é surpreendente. Como se explica este fenómeno?
À conversa com Jorge Ricardo da Silva, professor de enologia do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, que elogiou a qualidade dos vinhos a concurso, discutiu-se esta temática e chegou-se à conclusão de que a oportunidade profissional que o mundo do vinho providencia é o fator que mais seduz os jovens agrónomos. Segundo o professor, “os jovens são muito pragmáticos e vejo isso pelos nossos alunos, que reconhecem que o setor da agricultura é importantíssimo para a nossa economia. Eles têm uma perspetiva global em termos de emprego. O mercado global vai desde a Austrália ao Canadá, passando por imensos países, a cultura da vinha vai aparecendo nos locais mais incríveis, portanto, o mercado de trabalho tem sido muito atraente e os jovens vão apostar.”
Porém, para além do fator profissional, as gerações futuras também terão influência no próprio vinho e na forma como é produzido, o que pode levar a que novas tendências apareçam. Nunca se sabe o que o futuro tem reservado para o vinho, uma vez que difere consoante os anos e as condições da sua produção, no entanto, já se conseguem fazer algumas previsões sobre como será a enologia do futuro, dadas as preferências do consumidor e a evolução das alterações climáticas.
De acordo com o professor, “existem algumas práticas que ainda não conhecemos bem e que podem ser aperfeiçoadas, como: a estabilidade da matéria corante, a adaptação às alterações climáticas, o nível de controlo alcoólico no mercado, uma vez que se estão a atingir naturalmente teores alcoólicos muito altos. Prevejo também, devido à viticultura biológica, que os vinhos biológicos possam ter mais impacto no futuro, porque o consumidor está mais sensível para esse tipo de produtores”.