Quem, nos dias 5 e 6 de julho, entrasse pelas portas do Hotel Vila Galé Ópera, não iria, com certeza, deixar de sentir as notas aromáticas peculiares que pairavam no ar. Pouco passava das nove horas e nas caras dos hóspedes que deixavam os quartos lia-se curiosidade, que tanto podia ser pelo aroma como pela quantidade de pessoas que passavam de um lado para o outro com garrafas, jarros e copos na mão.
Tratava-se da Prova Cega da décima edição dos prémios Uva de Ouro, tendo, este ano, sido mais de 600 as referências a concurso. A chegada aos dois dígitos é um marco que merece ser celebrado de maneira especial e, apesar de ser um dia de festa, o rigor de sempre esteve presente. Entre enólogos, produtores, professores e alunos, as cadeiras que rodeavam as mesas redondas da sala onde iria decorrer a avaliação começavam a ficar preenchidas.
De entre todos os vinhos a concurso, apenas 30% iriam poder receber uma medalha e, por isso, o diretor técnico da competição, Aníbal Coutinho, aconselhou os jurados a lutarem por um vinho se gostassem dele. Com critérios como limpidez, aroma e sabor, as bebidas iriam receber uma avaliação até 100 pontos, sendo que as que recebessem mais de 83 estariam habilitadas a ser medalhadas com uma prata e as que tivessem mais de 87 com um ouro.
De modo que fosse feita uma avaliação fiel e sem viés, foram tidos todos os cuidados para que os avaliadores não soubessem qualquer informação acerca do que estavam a beber, à exceção do ano da sua produção. Na sala ao lado de onde era feita a degustação, os vinhos eram decantados para jarros, de maneira a não serem identificáveis.
Entre tranquilos – brancos, tintos e rosés -, licorosos e espumantes, cada mesa provou entre 30 e 40 vinhos diferentes, perfazendo um total de cerca de seis centenas. Para o General Manager de uma das principais distribuidoras de vinhos nacionais, João Mourão, esta é uma amostra “mais do que representativa” daquilo que de melhor se faz no setor vitivinícola português.
Antes de seguirem para quem tinha a responsabilidade de fazer a apreciação, as amostras eram sempre provadas pelo diretor técnico, garantido assim que não havia qualquer defeito. De seguida, eram levadas para a sala do lado e derramadas nos copos de vidro de pé alto que os avaliadores tinham à sua frente.
Depois de a bebida ser servida, o olhar atento dos jurados recaía sobre o líquido, uma vez que a limpidez era um dos parâmetros avaliados. Seguidamente, o copo era levado ao nariz e agitado circularmente, para os avaliadores sentirem os aromas emanados. Apenas com estas etapas completas era possível passar para a degustação propriamente dita. Mas desengane-se quem acha que da boca o vinho desce pela garganta. Dali, vai direto para uma cuspideira, não deixando o nome margem para dúvidas em relação à sua função.
Em cada um dos dias de prova, foram cerca de quatro horas de avaliação, para garantir que o rigor é uma constante e que a confiança depositada pelos consumidores nos júris é honrada. Rúben Fernandes, gestor de categoria de vinhos classificados da SONAE, afirma, inclusive, que “o reconhecimento do cliente” é o melhor prémio que pode haver.
Apesar de poderem existir várias competições, esta é a primeira que permite às famílias “ter os vinhos premiados na mão”, afirma o enólogo Jaime Quendera, sublinhando que os dez anos de existência só provam “a necessidade que havia de se criar um concurso de vinhos de fácil acesso”.
Como balanço da primeira década do concurso, Aníbal Coutinho, diz-se “abençoado” por liderar as hostes de um dos grandes concursos do setor vitivinícola nacional. Que o vinho português continue a dar a toda a população motivos para brindar.
Em cada um dos dias de prova, foram cerca de quatro horas de avaliação, para garantir que o rigor é uma constante e que a confiança depositada pelos consumidores nos júris é honrada.