Uva de Ouro

Devemos todos um “obrigado” ao moscatel?

Seja de Setúbal ou do Douro, existe algo mais do que o caráter doce deste vinho que merece a nossa atenção e reconhecimento, até porque ele pode bem ser o pai de todos os vinhos.

Uvas e Vinho Moscatel sobre barrica

O cenário, quer nas margens do Douro ou perto da Serra da Arrábida, é igualmente convidativo: o sol poente, num dia de vindimas, a incidir sobre os bagos saudáveis de uma videira de Moscatel. E, aparentemente, esse cenário já é plausível há cerca de 5000 anos: terão sido os egípcios os primeiros a reconhecer o potencial da variedade de uvas muscat, aperfeiçoando o processo de fermentação e dando origem a uma primeira tentativa daquela que é uma das bebidas preferidas dos portugueses – gelada e com uma rodela de limão.

Mas os tempos são outros e, onde egípcios outrora procuraram criar, quem sabe, o pai de todos os vinhos que hoje conhecemos, nos dias de hoje procura-se dar uma nova interpretação aos sabores que conhecemos de cor. É certo que basta juntar duas a três pedras de gelo a um bom Moscatel para se estar perante um sucesso garantido, mas se quiser impressionar os seus amigos na próxima festa, a lista de ingredientes pode, e deve, ser mais extensa.

SUAVIDADE E PERSONALIDADE
É importante que escolha o tipo de Moscatel certo para o seu gosto. Numa loja Continente, não será difícil encontrar várias opções deste vinho que é produzido principalmente na Península de Setúbal, como o Moscatel Roxo, o qual se destaca pela sua suavidade e bouquet floral.

Contudo, nem só junto ao Sado encontramos boas uvas da família muscat, ou não fossem Alijó e Favaios, terras de elevada altitude, conhecidas pela sua produção de vinhas de Moscatel Galego Branco, que dão origem a vinhos um pouco mais acídicos, mais complexos, que preservam a sua doçura apresentando no entanto traços de frutos cítricos que dão uma personalidade distinta ao Moscatel destas paragens.

MODERNIZAR O CONSUMO
Antes de falarmos das possibilidades que um bom Moscatel nos oferece, há que mencionar as muitas formas de os degustar. Quando se tratam de edições sujeitas a longos estágios na garrafa, que ganham tal complexidade e elegância as mesmas devem ser apreciadas de forma simples para potenciar ao máximo o seu sabor. Mas não devemos esquecer-nos das variantes, que têm vindo a enriquecer o consumo desta bebida e que podem passar por lhe juntar uma água tónica o que o fará estar perante uma bebida completamente reinventada, mas que ainda assim preserva dois elementos essenciais: o elevado teor de açúcar e o tom dourado que faz lembrar os finais de tarde majestosos. Mas, vá mais longe. Adicione à sua bebida um pouco de hortelã-pimenta, troque a rodela de limão pela casca de laranja e verá que vai agradecer à casta muscat por se ter deixado “domar” há tantos, tantos anos.

Copo de vinho Moscatel

UMA DESCOBERTA CURIOSA

Foi após a devolução de um lote enviado para o Brasil, de barco, no século XIX, que um produtor português descobriu o moscatel ganhava em sabor e intensidade depois de longos períodos de estágio em garrafa.