José Maria da Fonseca

“Fazemos vinhos de classe mundial”

A preocupação pela preservação da história da Península de Setúbal é há muito uma constante na empresa José Maria da Fonseca, como nos conta António Maria Soares Franco.

António Maria Soares Franco, enólogo Maria da Fonseca

Esta é uma empresa moderna, mas com raízes históricas. Qual a sua origem?
José Maria da Fonseca foi o primeiro produtor em Portugal a vender vinho tinto engarrafado. Na altura, era vendido a granel, sem marca, e José Maria da Fonseca foi o primeiro a engarrafar o vinho tinto: o Periquita. Ele achava que era uma boa forma de prestigiar o vinho, e até dizia que “esta é a forma civilizada de apresentar os objetos”. Isso mostra que a preocupação com a apresentação e a qualidade é algo que marca a empresa desde a fundação.

Uma fundação que acarreta uma carga histórica, em particular no que diz respeito a uma casta especial.
Este ano fazemos 185 anos. Somos a empresa de vinho de mesa mais antiga do país. E de facto, o Moscatel de Setúbal está connosco desde o início. Esta casta é histórica, e já está plantada há muito tempo na Península de Setúbal, mas foi José Maria da Fonseca que regulamentou a forma como o vinho era produzido, com um elevado grau de atenção ao processo, enviando vários vinhos para concursos internacionais. Desde logo recebeu muitas medalhas e, portanto, a história da empresa e das medalhas está ligada à história do vinho.

Uma história que ainda hoje se escreve nas medalhas que continuam a conquistar?
Temos vários vinhos que foram medalhados no Concurso Uva de Ouro, nomeadamente o Moscatel de Setúbal 10 anos, que recebeu a medalha de Ouro, e o Moscatel Roxo, que recebeu Prata. No Moscatel 10 anos assumimos um perfil de produção diferente: conquista o nome porque a colheita mais nova, que faz parte do lote que dá origem a este vinho, tem 10 anos, ou seja, as restantes têm mais idade. Isso faz deste, um vinho muito especial.

Mas a tradição de José Maria da Fonseca não reside apenas nos vinhos Moscatel?
A tradição começa no tinto, mas fazemos vários vinhos de classe mundial, nomeadamente o Mesa de Honra, que produzimos em parceria com a Sonae, que venceu uma Medalha de Ouro no Mundus Vini, uma prova de que, também lá fora, a elevada qualidade dos vinhos é reconhecida.

Voltando ao Moscatel Roxo, que também é dono de um carácter único. Como o define?
É deslumbrante, um hino aos sentidos! Pode-se estar uma hora à volta do copo e, ao longo desse tempo, ele vai evoluindo e quase parece que provamos dez vinhos diferentes.

É uma casta extraordinária e foi graças ao meu avô que conseguimos evitar a sua extinção. Foi ele que, na década de 1980/90, plantou o último hectare de vinha de Moscatel Roxo. Temos muito orgulho nessa casta, em preservar esse histórico e toda a herança que temos no Moscatel de Setúbal.